Voltando nosso olhar para a Virgem Santíssima, podemos contemplar a profundidade do silêncio que ecoava em seu ser. Como foi prudente a Virgem Santa diante do Anjo Gabriel; com Simeão no Templo; na visita à Isabel, sua parenta; nas bodas de Caná e no Calvário; mostra-nos o Evangelista: “Maria, porém, guardava todos esses acontecimentos, meditando-os em seu coração.” (Lc 2, 19).
Quando meditamos sobre o silêncio, pensamos em um ambiente pacífico, sem barulhos e até mesmo deserto. Mas o verdadeiro e mais importante silêncio é aquele que não depende do exterior, apenas consome a alma pouco a pouco até que não se agite mais com os tormentos do mundo. De fato, para alcançar a profunda paz de espírito e a piedade que produz em nossas almas o desejo de contemplar a Nosso Senhor no mais íntimo de nossos corações, é necessário aderir ao estilo de vida que levou a Virgem Maria.
A maior dificuldade para um ser humano, nos dias atuais, e até mesmo para nós cristãos, é retirar-se das ocupações mundanas que nos afastam de Deus. Terá um árduo trabalho aquele que desejar uma vida “fora do mundo”, pois, será necessário lutar, primeiro contra si mesmo e suas próprias vontades, e depois, contra as ilusões que o mundo nos prega.
Se falamos muito, certamente não conseguimos ouvir a voz de Deus; não podemos escutar nem mesmo nosso Santo Anjo da Guarda, que nos transmite a vontade de Nosso Senhor e nos guia conforme esta mesma vontade, falando na voz da consciência. Nos diz o autor: “Grande arte é saber falar ou calar quando oportuno.”. É preciso deixar que o Espírito Santo, que impulsionou Nossa Senhora, nos impulsione a proclamar as maravilhas de Deus.
Um cristão que não sabe “guardar a língua dentro da boca” tende a inclinar-se às armadilhas do demônio; deixa-se consumir pelo espírito de impureza, tornando-se uma pedra de tropeço entre os irmãos. Nos diz o salmista: “Em silêncio, abandona-te ao Senhor, põe tua esperança Nele. Não invejes o que prospera em suas empresas, e leva a bom termo seus maus desígnios.” (Sl 37, 7).
Devemos abrir nossos lábios para proclamar a glória de Deus, para Lhe dizer sobre nossas aflições, para suplicar sua infinita misericórdia sobre os homens e para agradecê-Lo pelos incontáveis benefícios que nos concede. Façamos deste versículo nossa oração: “Cantai salmos ao Senhor, povo fiel, dai-lhe graças e invocai seu santo nome!” (Sl 29, 5).
Reflexão sobre o Capítulo XX – Livro II – Imitação de Maria – Do silêncio